Tarta Relena
Tarta Relena
catalunha
02 out / 22:45
Amigas de infância, há muito que Marta Torrella e Helena Ros sabem que há qualquer coisa de muito especial a acontecer quando juntam as suas vozes. Mas só depois da passagem por um grupo coral, de onde trouxeram uma preciosa intimidade com música sacra, renascentista, barroca e romântica, é que perceberam o quanto os seus vários interesses musicais podiam metamorfosear-se numa linguagem própria. É a curiosidade sôfrega a levar que as Tarta Relena tanto cantem afinadas por essas referências longínquas clássicas quanto pelas músicas tradicionais de várias regiões mediterrânicas. Às vozes, centro absoluto da sua música, juntaram no aclamado álbum de estreia, Fiat Lux, apontamentos electrónicos que se estendem como um tapete para as suas melodias entrelaçadas. A singularidade da proposta duo desaguou na criação de um género próprio a que chamam “folk tronadet [arruinada ou estragada, em catalão]” ou “gregoriano progressivo”. Tão enigmático quanto fascinante.

Imagem: © Duna Vallès i Clàudia Torrents
Verde Prato
Verde Prato
país basco
Teatro Garcia de Resende
03 out / 22:45
A voz está no centro de Verde Prato. Projecto a solo de Ana Arsuaga, Verde Prato é uma das mais originais e encantadoras revisitações musicais da tradição oral do País Basco e junta, como se sempre tivesse sido assim, cantos populares e cantos litúrgicos, melodas escutadas a antepassados distantes no tempo e uma electrónica que é contemporânea sem fazer disso um manifesto. Escolhendo o euskera como língua para a sua criação, Arsuaga canta num sopro de voz que lembra Hope Sandoval (dos Mazzy Star) e Nico (Velvet Underground), e povoa as suas canções com histórias feitas da simplicidade universal da cultura popular. Kondaira (2021) o álbum de estreia, segue os passos de um rapaz que abandona a sua aldeia em direcção à cidade, cada canção espelhando os diferentes olhares de quem o vê passar. Uma preciosa narrativa sobre êxodos e migrações, mas também sobre a capacidade de empatia e aquilo que cada um projecta nas existências alheias. Tudo embrulhado em canções tocantes e intimistas.

Imagem: © Maria Muriedas
Bandua
Bandua
portugal
Teatro Garcia de Resende
04 out / 22:45
Imaginar encontros inesperados é uma das mais criativas e compensadoras possíveis abordagens à música. Ao inventarem um lugar de encontro entre o cancioneiro popular da Beira Baixa e uma reinterpretação moldada pela electrónica downtempo berlinense, Tempura the Purple Boy e Edgar Valente criaram o peculiar e fascinante duo Bandua. O álbum nascido dessa parceria proporciona uma das mais originais viagens musicais criadas nos últimos anos em Portugal, como se entrássemos numa nova tradição ficcionada e fôssemos lembrados de que os lugares são transformados pelas gentes e pela forma como renovam costumes e folclores locais. A partir de poemas e sonoridades beirãs (de influência pagã e mourisca), Tempura e Edgar Valente (cantor do grupo Criatura) deixam que as raízes germinem em sonoridades familiares e estranhas em simultâneo, numa “música profundamente livre e contemporânea”, como lhe chamou o jornal Público, que interroga “noções de território, espiritualidade e comunidade”.
Tanxugueiras
Tanxugueiras
galiza
Teatro Garcia de Resende
05 out / 22:45
Vozes e pandeiretas parece uma combinação fadada a replicar uma música rural e ancestral, ligada a uma qualquer essencialidade telúrica. Mas no caso das Tanxugueiras esse ponto de partida não as priva de, mantendo uma relação profunda com as raízes musicais galegas, trazer para os seus temas fatias de música electrónica, rock e pop contemporânea. Dizem que são protagonistas de uma (r)evolução da música tradicional da Galiza, e é exactamente isso que colocam nos discos e nos palcos por onde passam: uma tradição que pega nas melodias e nos ritmos herdados dos mais velhos e os faz evoluir até uma sonoridade que, quase por acidente, se torna revolucionária. Até porque, além da ligação a correntes urbanas, a reinterpretação de coplas tradicionais pelas três Tanxugueiras – que se estrearam em disco em 2018 – aponta também a temáticas em torno da ausência de fronteiras e do empoderamento feminino. Sempre com a celebração no horizonte – ou não fosse esta cultura tradicional transportada para uma singular pista de dança.

Imagem: © Rocío Cibes