O património cultural nas suas diversas formas - monumentos, paisagens, celebrações, formas de expressão, coleções, saberes, fazeres, etc. - representa valores de autenticidade e de relevância histórica. Além disso, ele também pode representar uma poderosa narrativa sobre a “identidade” nacional, de modo que o processo de tombamento, ou de registo, geralmente são efetuados quando um bem cultural representa expressões artísticas e históricas entendidas como relevantes para um grupo social, ou para um país. Na margem oposta, políticas de migração, planeamento urbano com base na segregação racial e violentos processos de despejos de comunidades negras em Portugal, complexificam uma discussão sobre o património material e imaterial dessa população. Quais são as vozes e corpos políticos que clamam por uma autogestão do património? Como os grupos subalternizados e oprimidos, muitas vezes destituídos de propriedade, se inserem nas políticas de representação do património cultural e propriedade intelectual de um país? Como podemos pensar em acervos, políticas públicas, historiografia, legado e mapeamento, para consolidar os diversos patrimónios da população negra em Portugal?
A UNA organiza, portanto, a Conferência-dança Por um (MAT)rimónio Imaterial Negro, no âmbito do Festival Imaterial, para reflectirmos sobre o que tem sido reservado à população negra em Portugal nos processos de definição e ressignificação do património material e imaterial do país. Serão duas horas de encontro e entrega, com o público do festival, no intuito de promover a experiência de ativação dos corpos, a partir da estimulação das mentes em harmonização com os afetos.
Associação União Negra das Artes — ANA TICA / IRIS DE BRITO / MAÍRA ZENUN / PINY